O Senhor carregava a cruz dificilmente…
A sentença cruel, afinal se cumpria.
Liberto Barrabás, Jesus no mesmo dia,
Era levado à morte, ante a ironia
Do fanatismo deprimente.
Brados, altercações, zombaria, algazarra…
O Excelso Benfeitor, no lenho a que se agarra,
Curva-se de fadiga, arrasta-se, tressua,
Escutando em silêncio os palavrões da rua.
O cortejo prossegue… O Cristo, passo em passo,
Por um momento só, exânime, fraqueja:
Ajoelha-se e cai vencido de cansaço.
O povo exige a marcha, excede-se, pragueja…
Nisso, um campônio vem da gleba com que lida.
É Simão de Cirene, homem simples e forte,
Um meirinho lhe pede apoio na subida,
Deve prestar auxílio ao condenado à morte…
-“Como, senhor? Não posso!…”_ exclama o interpelado,
“Tenho pressa!…” No entanto, o funcionário insano
Grita-lhe em rosto; “-Cão, obedece ao chamado!”
E mostra-lhe o rebenque a gesto desumano…
Calado, o lavrador atende e silencia,
Toma parte da cruz sobre o ombro robusto,
Fita o Mestre cansado, o suor que o cobria…
A turba escala o monte e alcança o topo a custo.
Contemplando Jesus, por fim, deposto o lenho,
Diz-lhe Simão:-“Senhor, achava-me apressado…
a filha cega e muda é o tesouro que eu tenho,
Não queria ferir-te o peito atribulado.
Perdoa, se aleguei a urgência em que me via…
É o coração de pai que falava a chorar…
Sei que estás inocente, ampara-me, alivia
A dor que me avassala e me atormenta o lar…”
Jesus endereçou-lhe um aceno de ternura,
Em meio à multidão, apupado, sozinho
E acentuou: -“Simão, guarda a fé que te apura,
Todo o Bem que se faz é uma luz no caminho.”
O Cirineu, de volta, acha a enorme surpresa…
Fala-lhe a filha: -“oh, pai, uma luz veio a mim,
Agora vejo e falo, acabou-se a tristeza,
Tenho a impressão que a Terra, é um formoso jardim!…”
Simão chora, lembrando a cruz que traz na mente
E reconhece o Bem por divino troféu,
Que mesmo praticado involuntariamente
É uma força atraindo a intercessão do Céu!…
Poesia de Maria Dolores, no livro a Vida Conta, psicografado por Chico Xavier